Todo mundo deveria, de tempos em tempos, se desligar da tomada, desplugar da rede, fazer um retiro, retirar do dia as amarras que laçamos, em nossa mente, pernas e mãos.
Nesse retiro de alma, nessa pausa de ar, o difícil é encarar os vazios, sem as máscaras, os disfarces que já fazem parte da rotina. A prova está em se escanear, se aguentar, se enxergar sem maquiagem, o face to face com o seu eu.
Todo mundo deveria, de tempos em tempos, dar um tempo, de sol ou chuva, areia e mar. E apenas parar, só olhar, o vai e vem da onda que só vem e vai.
Se tem alguém, ela vai e vem. Se tem ninguém, ela vai e vem, vem e vai.
E se no meio do caminho tinha uma pedra, ali tem areia, um tanto de pedrinhas, empurradas pela onda, que vem e vai.
Todo mundo deveria, de tempos em tempos, ser ninguém, apenas andar, só olhar, o vai e vem, o vem e vai.
São tantos, tão diferentes, cada um com suas dúvidas, seus medos, seus desejos, seus problemas, suas dores. E tão iguais, nesse vai e vem, vem e vai.
Todo mundo deveria, de tempos em tempos, aprender com a vida, com o ter e não ter, com o vai e vem, da maré que nos embala e nos maltrata, nos alegra e apavora, nos levanta e nos afoga.
É por isso que todo mundo, de tempos e tempos, morre. Para poder renascer, e assim renovar, como a onda do mar, o seu vai e vem, vem e vai, sem fim.