TAMO JUNTO, VINI!

Segundo o Google, o primeiro ser parecido com os que hoje lotam os estádios de futebol surgiu há 13 milhões de anos e parece que não era muito erectus, nem parecido. Dizem que houve um processo evolutivo de milhões de anos até que, provavelmente na África, os primeiros sapiens deram sinal de vida, algo em torno entre 400 mil e 100 mil anos atrás, não se sabe bem, tem que crave que foi há 200 mil anos.

Assim, começamos com os Hominídeos, o Homo habilis, Homo erectus, o Homo neandertal, até o Homo sapiens. Por milênios a religião era a fonte da história do surgimento do ser humano, ate que Darwin, em 1859, lançou seu livro “A origem das espécies”.

Pois então, passados 100 mil anos, talvez 400 mil, quem sabe 200 mil anos, e ainda se discute que cor de pele é mais nobre, ainda se vê uma galera em arquibancada de campo de futebol, descendentes dos primatas macacos, gritar macaco para um jogador que está no campo, jogando.

Aí se diz que futebol é apenas um jogo. Sim, de bola, de interesses, de egos. E quando um estádio, antes da bola começar a rolar, ataca, agride, ofende um ser humano apenas pela sua cor de pele, não é apenas futebol. É cultural, é comportamental, é um retrato deste ser humano que diz ter evoluído com o passar dos milhões de anos.

O que se assistiu ontem em um jogo pelo campeonato espanhol de futebol foi algo que vive latente há séculos no íntimo dessa experiência genética, química, e que flagrantemente não deu certo. Algo que já causou atrocidades, crueldades permanentes por séculos e séculos e que em pleno anos 2 mil pós messias é escamoteado e aflora de forma pontual. Algo que persiste mesmo todos sabendo que viramos pó, seja nobre ou plebeu. Mesmo sabendo que temos todos o mesmo número de ossos no corpo, ossos da mesma cor, sem distinção de gênero, credo ou origem social.

Quando um idiota pratica um crime de racismo se pode direcionar a punição a um elemento mal informado, mal concebido, mal criado. Quando um estádio, em coro, pratica um crime de racismo, se chega à conclusão que o erro está na concepção genética deste ser que não merece a dádiva de praticar o milagre da vida. Quando, no momento do crime, não se cumpre com a lei criada para punir atitude tão hedionda, se percebe que todos nós, brancos, pretos, amarelos, pardos, somos reféns de interesses e poderes que normatizam o nosso viver. Ontem, ao sermos testemunhas em tempo real de algo tão fora de propósito, em meio a esses tempos tão críticos em lideranças, oportunidades, sentimos cair nossas esperanças por dias melhores. Difícil sentir felicidade de forma solitária, difícil sentir-se bem quando deparamos que o nosso entorno não está plenamente bem, difícil desfrutar quando tantos são impedidos de desfrutar. O nosso sistema de autodefesa, sempre ativo, sempre alerta, nos poupa desse estágio de consciência no nosso dia-a-dia, porque do contrário, seria impossível viver de forma saudável. Mas basta um evento como este para que essa amarga realidade invada o nosso ser para nos mostrar que “humano” é apenas uma etiqueta na nossa pulseira de identidade.

SIM & NÃO DO OSCAR

Sim, o mundo muda à toda hora.

Sim, a coisa está rápida, frenética.

Não, não estou conseguindo acompanhar. Talvez, esteja exercendo o meu direito de não compactuar, gostar, admirar todas essas mudanças.

Sim, desde quando a Eva resolveu experimentar uma atraente maçã, dizem que estimulada pela cobra (um outro tipo de cobra, mais para serpente), que o mundo muda, parece que naquela hora, mudou rapidamente, drasticamente, então não deveria ser novidade.

Sim, assisti ao Oscar no domingo.

Sim, serviu como constatação que tudo está mudando, em todos os campos, todas as áreas, inclusive nessas criadas para entreter enquanto vendem o glamour, o paraíso hollywoodiano.

Sim, teve momentos emocionantes, e claro, muitos borings

Não, não assisti ao filme que venceu sete Oscars, em 11 indicações.

Sim, já ouvi diversos comentários de quem assistiu. A maioria parou de assistir após 20, 30 minutos de filme.

Não sei se vou assistir “Tudo em todo lugar ao mesmo tempo”. Ao mesmo tempo, Sim, eu deveria assistir, da mesma forma que faço com qualquer filme que coloco para assistir. Os bons, naturalmente você vai até o fim se deliciando, rindo, chorando, se emocionando, agradecendo à toda equipe que produziu algo que entretém, educa, revela. Os ruins, eu me obrigo ir até o fim para checar como ele vai finalizar, se é possível fazer algo tão ruim, do começo ao fim.

Sim, se tudo está mudando, de forma tão acelerada, a linguagem do cinema também deve acompanhar, o que não significa ser melhor, mais interessante, cativante, de tudo que já vimos desde a criação da sétima arte. É louvável essa busca incessante por romper fronteiras, buscar novas formas, novas linguagens, novas maneiras de contar histórias. Conseguir agradar, é outra história.

Sim, a gente deve estar aberto para as mudanças, mas chega uma hora na vida que faz parte avaliar, refletir, selecionar o que você vai engolir, ou continuar engolindo. E confesso que este multiverso, embora multipremiado, provoca um multivazio no meu ser. Aí, bate a saudade de encontrar com os amigos, reunir a família, e estarmos todos focados no encontro, sem acessórios nas mãos que desviam o olhar, sem compartilhar à distância, mas com o olho no olho presencial. Aí, você lembra que as cantoras tinham como atrativo a voz, a emoção no cantar, não no rebolar. Aí você pensa nas histórias já contadas na telona, já premiadas no Oscar, que não precisavam da tecnologia multiversa para entreter. Claro, havia tecnologia, mas a fonte estava no olhar, no expressar, no vestir, no ângulo da câmera, no como contar.

Sim, o mundo muda, certamente em uma velocidade que chega a atordoar os mais experientes. Mas o comando ainda continua nas nossas mãos, nos nossos olhos, na nossa capacidade de filtrar, se emocionar com que vale a pena a cada um. Como a emoção que senti ao ver aquele chinesinho (que na verdade é do Vietnã) lançado ainda criança pelo Spielberg na caçada à Arca Perdida, recebendo o Oscar de melhor ator coadjuvante. Um bebê gerado em um país que foi arena de batalhas entre o Eixo e Aliados, dividido para servir de bandeira para russos e americanos. Um bebê, nascido em meio à guerra, que teve que fugir com o seu pai e cinco irmãos em um bote lotado de refugiados para Hong Kong enquanto sua mãe e seus outros três irmãos se refugiavam na Malásia. Um garoto que foi acompanhar o irmão no teste para ser o ajudante do Indiana Jones e que acaba, ele, ganhando o papel. E no ano seguinte vai estrelar o filme Os Goonies, para ficar desiludido com a profissão de ator, sem trabalho por décadas, que o faz tentar outras áreas como assistente de direção, produtor, coreógrafo, instrutor de artes marciais e até tradutor. Para quase 40 anos depois, em um novo século, novo milênio, subir ao palco do Dolby Theatre, em Hollywood, e receber a sua estatueta dourada.

Ke Huy Quan. Uma história de vida épica, um exemplo de como este mundo, com todas as suas mudanças, embates, injustiças, diferenças sociais, econômicas, pode mudar a maré e levar quem lutou, batalhou, se esforçou, onde desejou estar.

Sim, a cerimônia do Oscar deste ano foi morna, sem atrativos, a mais linear de todas que me lembro ter assistido. Mas valeu, muito, pelas lágrimas que escorreram de um rosto que compartilhava a mensagem de que, se aconteceu com ele, pode Sim, acontecer com qualquer um. Só é preciso tentar.

PAGLIACCI

Dias difíceis, complicados, mas parece que estão todos sentindo o mesmo, aquela sensação de “falta alguma coisa”. Fevereiro se foi, com ele o Carnaval, que parece não ter mais o mesmo efeito de décadas passadas, o de dar um break nos problemas por pelo menos quatro dias, mesmo que as cinzas estejam de volta na quarta-feira.

Fabio, sentado na varanda, olhar perdido no horizonte, livro aberto sobre o banco de madeira, pensava, pensava, sem concluir. Foi quando Débora sentou ao seu lado, fez um carinho colocando os dedos em meio aos seus cabelos. Imediatamente Fabio saiu do seu transe reflexivo.

– E aí, pensando ainda? Terminou o livro?

– Terminei. Pensando ainda.

– Tá pensando muito!! A vida não foi feita para ser escarafunchada assim, racionalizada, destrinchada… ela num guenta!!!

– Verdade, num guenta memo!!! Aliás, eu ando num guentando!!!

Oxi!!!!

– Sério… quando a gente questiona muito tudo o que acontece, procura as razões desse rolo todo, procura entender o que se ganha com isso tudo, fica sem respostas concretas, a não ser aquelas dadas pelas religiosidades de cada um. Que se forem confrontadas… ahhh… sei lá…

Eita… tudo isso efeito colateral do livro??

– Ajudou… Tem hora que é melhor não ler…

– É… talvez por isso anda se lendo cada vez menos, livrarias fechando, quebrando… o povo não anda querendo pensar, se informar, só fica de olho nas telinhas, passando o tempo com bobagens, enquanto o saber…

– Sinal dos tempos, talvez do lado obscuro do uso da tecnologia. Você viu que foi decretada a falência da Livraria Cultura. Agora conseguiram uma liminar, foi suspensa, mas não vejo muita saída. Livro mata a sede do saber, o problema é que a maioria não sente sede!!!!

Hehehe… essa foi boa, criou agora??? Affff… O problema maior é que a gente anda sem muitos horizontes. Você falou da religiosidade e ela sempre foi a alternativa, desde de láááá atrás, para as pessoas suportarem os sofrimentos, uma forma de manter a esperança viva, acreditar que nada acontece por acaso, que existe uma razão maior. Só que tem hora que não resolve.

– Esse é um ponto das minhas reflexões, um dos temas dos meus debates com o Gestor e sua equipe. Quando a gente olha em nossa volta, nos detalhes da vida que nos cerca, é tudo tão incrivelmente bem elaborado, tanta complexidade nas coisas mais simples, tudo tão bem concebido, que não dá para entender a razão de certas, de muitas coisas estarem acontecendo. E na hora que você olha para a religião, seja ela qual for, é um embate tão ferrenho do que é bem contra um mal, uma tentativa de nos comprar oferecendo o Céu e ameaçando nossa escolha com o Inferno. Sei lá…

– Mas a política usa essa estratégia direto, só confronto, só desconstruindo quem é contra. Lembro de uma frase do Churchill, acho, que dizia que a diferença maior entre os humanos e os animais é que os animais não permitem que um estúpido lidere a manada. Estamos nessa há décadas!!!!

– Nem fala… se fossem só estúpidos… Tem hora que eu me sinto um grande, um enorme palhaço, eles fazem a gente de palhaço o tempo todo. E o pior é que vida de palhaço é alegria de fachada, aquele que tem a função de fazer rir, é o que todos esperam, mas por dentro… vai saber o que ele está passando, sentindo.

– Engraçado, me lembrou uma história que é contada por aí como piada, mas na verdade acho que faz parte de uma série de revistas de quadrinhos escrita pelo Alan Moore, Watchmen. A história, meio conto, é de um homem que vai ao médico e conta para ele a sua decepção com a vida que anda dura e cruel. O médico, já acostumado a ter esse tipo de desabafo de outros pacientes, diz com toda convicção: “O tratamento é simples. O grande palhaço Pagliacci está na cidade, assista ao espetáculo. Isso deve animá-lo.”  

E o homem, em lágrimas, diz: “Mas, doutor… Eu sou o Pagliacci.”

GERAÇÃO DOURADA

Gerações chegam. Gerações se vão. Gerações que geram respeito, Gerações que geram admiração. Gerações que ficam na História. Gerações que fazem História. Mas talvez, esta Geração que aos poucos vai se despedindo atualmente deva ser destacada, enaltecida, como única, nascida no pós Segunda Guerra, e que viveu mudanças radicais, libertadoras, aprisionadoras, comportamentais, tecnológicas.

Uma geração que cresceu jogando bola feita com as meias de seda da mãe, aquelas meias de seda que despertavam o desejo de despi-las. Uma geração que viu nascer o rei do futebol e o viu morrer. Uma geração que viu nascer o país do futebol e o esta vendo deixar de ser. Este país que foi campeão mundial e parou pentacampeão mundial aos seus olhos.

Esta Geração viu nascer a televisão, viu o mundo se conectar em preto e branco e está vendo todo mundo se encontrar virtualmente. Esta mesma geração que nasceu em um século, em um milênio e conseguiu chegar em outro século, virar outro milênio. Uma oportunidade que aconteceu para gerações que cabem nos dedos da mão.

A Geração que viu nascer a Bossa Nova, o Rock and roll, o Pagode e que não aguenta ouvir o Sertanejo Universitário. Que viu nascer os Beatles, os Rolling Stones, cresceu ao som de Tom Jobim e morre de ouvir Pablo. Que assistiu nascer nas telas Marilyn Monroe, Marlon Brando, Jack Nicholson, Ingrid Bergman, Meryl Streep.

Uma Geração afortunada, que descia ladeira de carrinho de rolimã, bebia Crush e ainda encara uns crushs nas baladas noturnas. Que fazia a barba com navalha, escrevia cartas, que lia os livros de Antonio Maria, Hemingway, Monteiro Lobato, Drummont, Rubem Braga, no lançamento deles. Antonio Maria, o cronista preferido de um publicitário, escritor, professor desta Geração Platinum, que um vento vadio – depois de o inspirar em um texto que o levou para a saudade do final dos anos 50, 60 – o levou da gente, filho, neto, amigos. Um vento vadio e malvado, que o fez adormecer na cadeira da varanda para não mais abrir os olhos neste mundinho que já foi muito melhor pela ação da sua Geração. Pela ação dessas suas crias, que tantas transformações viveu, surfando, se reinventando, compartilhando, acrescentando, enriquecendo, vivendo, não apenas respirando.

Uma Geração que na ânsia de participar, interagir, se sentir ainda viva, sucumbe ao lado da geração de hoje que mais assiste do que protagoniza. Uma geração de espectadores, que não tira os olhos da tela, que se alimenta daquilo que contamina a mente com uma avalanche de informações, vídeos, fakes, que reduz o vocabulário, ocupa o tempo, que parece não mais existir. Uma geração de coadjuvantes, que prefere o assistir ao agir, refém da tecnologia que ajuda e atrapalha, que facilita e embota, que agiliza e paralisa.

Assim, pouco a pouco, que parece rápido, rápido, representantes desta Geração Única, que falava ao telefone com a ajuda da telefonista e que hoje faz listas, tarefas e manda recados através da Siri ou Alexa, vão batendo em retirada. Talvez como prêmio, condecoração pelos significativos serviços prestados, recebem o passe para mudar de fase neste game da vida.

A gente se vê em breve, amigo Duboc.

ETERNO

Nascer e morrer faz parte, inevitável. Ganhar e perder faz parte, mas nos últimos anos andamos perdendo mais do que ganhamos. Tempos de celebridades efêmeras, que ganham a primeira página pelo valor do click, da curtida, que não vale curtir. Valor que se discute, fake coin, que não vale quanto pesa, mas vale quantos atingem, quantos iludem, envolvem, com algo tão descartável quanto embalagem de picolé no palito. Tempos de influencers, de rebolado que vale mais que a voz, cantando letras que não valem um pum do rebolado. Tempos em que se discute se os talentos do passado teriam a mesma performance no agora, como se o valor dos feitos fosse menor dos feitos agora.

Talvez os mais antigos estejam mal acostumados com os talentos que degustaram em tempos passados, que alimentaram seus prazeres pela arte nos mais variados palcos da vida, seja nos tablados, nas telas, nas páginas ou nos gramados. A arte performática com profundo conteúdo em sons, gestos e dribles. Outros tempos, outras exigências, outras avaliações, outra consciência.

Aí o ano finda e se transfere as expectativas de tempos melhores ao ano que vai nascer. Como se o girar dos ponteiros, que quase nem mais existem, pudesse ter a capacidade de gerar algo melhor. Uma esperança pueril que acredita que o nascer do novo dia, do novo ano, traga algo melhor do que o passado. Ai, quiseram os Deuses que antes deste ano findar, a gente se despedisse de um Rei, como se fosse melhor essa perda tão sentida ficar no embrulho deste ano passado, de tantas perdas sentidas para cada um de nós. O mundo já havia perdido uma Rainha, chegou a hora do nosso.

Pelé parte após uma Copa do Mundo. O Mundo que o elegeu Atleta do Século chora sua partida. E esse pesar mundial deixa este final de ano ainda mais pesado, ainda mais com gosto de cabo de guarda-chuva. Não importa que este final de partida já era previsto, que ele estava jogando nos acréscimos. Nosso egoísmo nato exige que aqueles que queremos bem, que nos inspiram e fascinam, permaneçam com a gente eternamente, mesmo que a gente não os veja, mesmo que nunca tenham sido apresentados a nós. Precisamos apenas saber que eles estão por aí, vivos. O nosso egoísmo não leva em conta se esses queridos permanecem com qualidade de vida para continuarem respirando. E quando eles partem, uma parte nossa vai junto. Ao mesmo tempo, eles permanecem vivos nas nossas lembranças, nas histórias que voltamos a contar para nós mesmos e para quem compartilhamos essas lembranças. É neste momento que eles saem da vida e tornam-se eternos.

Todos que nascem morrem. Apenas alguns se eternizam. No futebol, o Dico é certamente o maior deles, na primeira Copa já virou Eterno.

Vida eterna ao Rei. Feliz 2023 a todos. Tomara seja.

DIÁRIO DE BORDO QATAR 7

“O tempo passa, torcida brasileira. Fecham-se as cortinas e termina o espetáculo”. E passa cada vez mais rápido! Para nós terminou antes do que todos esperavam. Esperaram de forma ansiosa por 4 anos, e meio neste caso. E já acabou. As coisas nem sempre acabam como a gente espera, foi só mais um caso.

Foi uma final épica, nervosa, emocionante, decidida nos pênaltis, depois de total domínio dos Hermanos, com apenas dois chutes no gol dos Bleus, que levaram a partida para prorrogação. Novas emoções, novas intervenções dos protagonistas da Copa, Messi e Mbappé, se revezando na artilharia da Copa, com o francês fazendo um hat-trick que vai deixa-lo eternizado nas estatísticas da história. Estatísticas que previam vitória da França com 40%, a Argentina tinha 36%, o empate 24%. Deu empate. O espião estatístico já dizia que “antes da final Argentina fez cinco gols pela direita, três pela esquerda (todos dentro da área), e quatro pelo meio (três pênaltis e uma conclusão da frente da meia-lua). Dos 13 gols da França, oito tinham sido marcados com a finalização sendo feita da esquerda e quatro da direita (todos de dentro da área), além de um gol da frente da meia-lua”. As mesmas estatísticas que cravavam a Croácia com 40% de chances, contra 29% do Marrocos e 31% para o empate. Sendo a Croácia a primeira a chegar em uma semifinal de Copa do Mundo com só uma vitória desde 1938. No Catar foram uma vitória e quatro empates. Para quem gosta de estatísticas, um prato cheio, que se come frio, na maioria das vezes, segundo as estatísticas.

Argentina Tricampeã Mundial no Qatar, merecido. E assim termina uma Copa que fica na história, mas não deixa saudades.

Fica na história porque foi a primeira no Oriente Médio, a primeira a ter uma narração feminina pela TV, a primeira a ter um país da África nas semifinais. A mais cara da história e a primeira onde os anfitriões perdem na estreia, entre outras estatísticas que o espião adora.

Não vai deixar saudades porque as críticas foram muitas, desde a escolha do país sede. E nos dias de hoje, crítica é o que não falta, o povo da arquibancada virtual adoooooraaaa. Qatar, país que possui uma população de 250 mil cataris e 2.750.000 trabalhadores imigrantes, ou seja, cerca de 80% da população é estrangeira (ave estatísticas!). Desses imigrantes, 6.751 morreram na corrida para colocar de pé oito estádios, hotéis e toda extensa infraestrutura para sediar uma Copa, que foi devidamente “comprada” pelo Sheik Tamim Bin Hamad Al Thani, de 42 anos, em 2010. Comprada por um país onde os direitos humanos não são direitos, nem humanos, uma ditadura que criminaliza a homossexualidade, que persegue os contrários de fé, que restringe, agride, normatiza os direitos (que não existem) do sexo feminino.

Uma Copa que não vai deixar saudades, para nós brasileiros, pelo futebol fraquinho que os estrangeiros, que vestiram nossa camisa, jogaram. Pelas escolhas duvidosas que o nosso técnico fez. Pela falta de identidade com o nosso futebol raiz, que tinha em campo um único representante, Neymar. Que sofreu ataques perversos daqueles que acabam por contaminar politicamente tudo que rola hoje em dia, inclusive a bola.

Triste Copa, pelo resultado, pelo uso mesquinho, pobre, patético que se faz hoje de tudo, a começar pelo verde-amarelo, que não tem dono, partido ou ideologia. Triste país, dividido, extremado, fracionado, pelos sábios, donos da verdade absoluta, que jamais deve existir, onde se não está do mesmo lado, está mortalmente contra, sem diálogo, sem tolerância, sem reflexão. Só se ouve aquilo que se quer ouvir, que esteja alinhado com o que se pré-concebe. Uma ditadura fantasiada, maquiada de democracia. Os que posam de ouvintes estão na verdade apenas na espera de emitir sua opinião, que deve ser vista como soberana e imutável. Bem parecido com os comentaristas, analistas dos jogos da Copa, que estão sempre à espera de mostrar como sabem tudo, com uma pequena diferença, a de aceitarem, vez ou outra, uma opinião contrária. Pelo menos, aparentemente.

Esta Copa vai passar, como tudo passa. O que parece não mais mudar é esse egoísmo de admiração ao próprio umbigo. Vamos todos se Qatar! Que Doha!!

DIÁRIO DE BORDO QATAR 6

Fim de Semis e pintou a estrela da Copa. Uma estrela já veterana, que já marcou presença em cinco álbuns de figurinhas de Copa do Mundo, que se despede deste tipo de torneio fazendo história e alegria do espião estatístico.

A vida virou um grande painel de estatísticas, tudo conta e se compara. Nesta Copa, nada se compara a Messi, um hermano europeu, que até outubro deste ano não era visto pelos próprios hermanos de nascimento como alguém capaz de superar o mito maior, Maradona, que fez carreiras pelos gramados do mundo. E talvez ainda não seja. Dom Diego era outro estilo, bem diferente deste pibe que ainda menino cruzou os mares para vestir a camisa do Barcelona, que ele parecia se dar melhor, se identificar mais do que com a da sua seleção. E no Qatar, tudo mudou. A começar pela vontade, foco, disposição de fazer desta despedida algo que o mundo não vai esquecer e que ficará registrado nas estatísticas do futebol mundial.

Com o baile que ele deu no seu marcador na jogada do terceiro gol sobre a Croácia, Messi se tornou líder em assistências ao lado de Antoine Griezmann, da França, Harry Kane, da Inglaterra, e Bruno Fernandes, de Portugal. É o que mais finalizações fez, 27, líder em finalizações certas, 15, e em passes para finalizações, 18, E também em faltas sofridas, 18, dribles certos, 15. Sem contar que se tornou, aos 35 anos, o jogador mais novo a disputar cinco Copas do Mundo na história, deixando para trás o goleiro Buffon da Itália. Ahhhh, é o argentino que mais vezes disputou a Copa, dando um chapéu duplo em Maradona e Mascherano, além de se igualar a Batistuta com 10 gols, maior artilheiro em Copas pela Argentina.

Haja estatística!! Esta Copa está um porre em números e análises táticas feitas pelos comentaristas que não param de falar e disputam um verdadeiro combate de opiniões nos campos das transmissões pela TV. Eles sabem tudo, destrincham tudo, analisam tudo, esclarecem tudo, descobrem tudo, sobre como jogam as defesas, as manobras de ataques, a ocupação dos espaços de cada seleção, a posição de cada jogador que errou ao marcar o atacante no esquema X da jogada Y que terminou em WO do goleiro que não estava no canto onde a bola entrou. UM PORRE!!!! É verdade que eles sabem tudo depois que tudo aconteceu, mas o Tite podia ter conversado com eles para saber como segurar por quatro minutos o ataque. Quatro minutos!! Quatro minutinhos para segurar não parece muito, mas para muitos maridos, e machos em geral, parece uma eternidade!! O Tite ficou tão tite que nem esperou seus comandados para descer o túnel da derrota. Tite nunca mais, deixa a gente, Tite!!

De volta às estatísticas, você sabia que o Mbappé, artilheiro até o momento da Copa com cinco gols, fez quatro com o pé direito, um de cabeça, todos de dentro da área, em 344 minutos em campo, ou seja, um gol a cada 69 minutos? E que esses gols foram em 19 finalizações, o que dá 3,8 chutes para cada gol marcado? Anote esses números em um papel e fique de olhos atentos no domingo, na Final da Copa do Mundo de 2022. Preste atenção, quando o Mbappé der entre 3 a 4 chutes, vai sair um gooooollllll!!! Claro, se o gol não acontecer, certamente, com toda certeza, as estatísticas serão modificadas e o fator multiplicador da variável aritmética será alterado acarretando uma redução da eficiência performática do artilheiro da Copa.

Quer saber?? Messi, Argentina, Estatísticas, Comentaristas, Copa… Vão se Qatar!!!!

DIÁRIO DE BORDO QATAR 5

Fim de Copa. Pelo menos para Brasil e Holanda. Inglaterra e Portugal.

Interessante como existem sempre os dois lados da moeda. Aquela que o juiz da partida joga para cima para decidir de que lado do campo serão batidos os pênaltis. E nova moeda é jogada para decidir quem ganhou, na disputa do Cara ou Coroa, o direito de escolher bater primeiro ou defender.

Alguns dizem que pênalti é loteria, vence quem tiver melhor sorte. E neste momento, a moeda é jogada novamente para cima, um lado dela vai dar alegrias, o outro a dor de perder. Sempre assim, sem meio termo, um lado vai ganhar o outro não. Alegrias e comemorações de um lado, tristezas e lamentações do outro.

O interessante é que, por vezes, o ser humano usa a mesma forma de reação ao se sentir triste ou exultante: o choro. É mesmo interessante como temos a capacidade de chorar por razões diferentes. Quando nascemos, de cara, choramos pela volta a este mundinho. E sempre que sentimos algum desconforto, fome, sede, fralda suja, frio, calor. Depois crescemos e continuamos chorando, ao se machucar, para chamar a atenção. E daí pra frente, haja choro, pelos mais variados motivos ou até mesmo sem motivo. Choro explícito, calado, que algumas vezes recebe como resposta um “chora na cama que é mais quente”.

Nesta Copa foram muitos os choros nas arquibancadas. Nos gramados, vide Neymar, Cristiano Ronaldo. E, claro, frente as transmissões pela TV. Não só daqueles que foram desclassificados, mas havia também choros dos vencedores e essa é a reação, talvez, mais emocionante e curiosa. Ver alguém chorar ao ver seu time, sua seleção, perder é natural e mostra o quanto um simples esporte, um mero jogo de futebol mexe com o torcedor. Mas não é apenas um jogo, é algo maior, difícil de explicar. Difícil entender como algo puramente sem compromisso, que acontece à distância, cujos os protagonistas nem sabem que existimos, pode mexer tanto com o nosso emocional. Pode aflorar tanto o nosso instinto de competição, pode contaminar nossas frustações, alimentar nosso desejo de vencer, mesmo que seja pelos pés com chuteiras daqueles que elegemos como nossos representantes. Não somos nós que marcamos o gol, mas somos nós que ganhamos ou perdemos com aquele gol.

Mas se é natural chorar quando bebê pela fome, quando adulto pela falta de alimento, ou pela dor de alguém que se foi, pela mágoa, ou por tantas e variadas perdas, como explicar o choro pela vitória? Como explicar o choro pelo momento de êxtase, pela alegria maior possível, pela conquista de algo ganho pela luta, como prêmio? Estranho ser esse que é capaz de se emocionar verdadeiramente por algo tão sem real importância e também praticar atos muitas vezes tão cruéis, tão desumanos! Foram muitos os momentos, nesta Copa, que vimos imagens de torcedores em prantos pelas derrotas e pelas vitórias também. Imagens que transmitiram essa emoção e que acabam por contaminar as nossas emoções, nos fazendo derramar lágrimas pela emoção de pessoas que nem conhecemos, mas que nos tocam.

Quem estava presente no estádio, no jogo do Brasil, chorou pela derrota da sua seleção. Muitos dos que assistiam à distância choram a falta de identidade com a sua seleção, a falta de talentos ao nível dos que já tivemos e foram os responsáveis por sermos Pentacampeões Mundiais. Para esse torcedor raiz, o verdadeiro futebol brasileiro não existe mais e o que vemos hoje é outro esporte, mais tático, comandado pelas estatísticas e esquemas de jogo, não mais pelo talento do improviso, da ginga não ditada pelos técnicos à beira do gramado. Nossos artistas da bola, que nos diferenciavam da burocracia atlética dos praticantes europeus, nasciam nos campos de terra batida. E não ficavam prestando mais atenção nas orientações de vestiário, ou aos gritos na beirada do campo, do que no que podiam inventar com a esfera. Pelo menos aqueles como Gerson, Didi, Garrincha, Romário, Ronaldo, Zico entre centenas de outros. Pelé não foi citado porque estamos falando apenas dos mortais.

O que existe hoje são fornadas de atletas, monitorados pela tecnologia, não pela liberdade de criar, improvisar. Logo teremos apenas robôs jogando bola. Talento? Nenhum, mas altamente eficientes, segundo as estatísticas.

O Futebol morreu. O que assistimos hoje deve ser o Soccer. Doha a quem doer.

DIÁRIO DE BORDO QATAR 4

E o dromedário de listras seguiu fazendo vítimas ao término das oitavas de final mandando pra casa a Espanha.

O Brasil acordou, bailou e fechou sua apresentação com uma homenagem das mais bonitas da Copa com a faixa desejando melhoras ao melhor jogador de todos os tempos: Pelé. Claro que os sábios intolerantes de plantão, sempre alertas neste final de tempos, fizeram uso de seus martelos da justiça neste tribunal virtual que anda mais chato que gilete sobre a pia. Primeiro mandando para o paredão o Tite e seus meninos que dançaram felizes, alegres, após os quatro gols sobre a Corea, como se comemorar dessa forma fosse um desrespeito aos adversários. Nas redes sociais pipocaram “vergonhoso”, “patético”, “ridículo”, para a dancinha do pombo, do Paquetá, do Neymar e Cia. Que momento triste para um país que sempre foi reconhecido pela sua alegria, descontração, ginga, cumplicidade com a música e suas mais diversas danças.

O dedo inquisidor dos justiceiros hipocritamente éticos da Nova Era não perdoam nem um pombo e muito menos um Rei. Sim, um Rei reconhecido e ovacionado, referenciado, idolatrado mundialmente quando fazia arte nos gramados, desde os 17 anos, em Copas do Mundo. Um Rei que parou uma guerra para que os combatentes, de ambos os lados, pudessem vê-lo reinar com a bola nos pés. Um Rei crucificado por não reconhecer uma filha que foi saber que existia já adulta e por isso não tinha estima, e que se deveria ou não ter cabe a cada um sentir. Nessa hora, uma frase antiga pode servir de referência: “Só o dono da casa sabe onde ficam as goteiras”.

Nessa hora, me permito relatar uma experiência pessoal com este Rei.

Início dos anos 90, estava começando minha etapa como dono da minha própria agência de publicidade, quando uma amiga que trabalhava na Lemos Britto Congressos e Feiras me convida para o lançamento de uma nova Feira que deveria acontecer no final do ano, a Pelé Sports, a primeira Feira Internacional de Esportes. O encontro foi na sede da Lemos Britto, na rua 13 de maio, no Bixiga. Cheguei cedo, bebidas, canapés rolando e eis que essa amiga resolve me apresentar para o Edson Arantes. Ela me pergunta se eu não queria tirar uma foto com o Pelé, mentalmente eu ajoelhei, agradeci e beijei os pés de dedos todos tortos do Rei. O fotógrafo tinha acabado de chegar, nem tinha colocado o rolo de filmes de 36 fotos na câmera o que fez com que eu e sua majestade tivéssemos um tempo para papear. Na primeira frase dele já senti o nível da sua majestade e humildade: “Obrigado, Renato, pela sua presença, vou precisar da sua ajuda para conseguir emplacar essa Feira, é a primeira vez que faço algo assim, tomara dê certo”.

Ouvi a frase e na hora meu ser tremeu, arrepiou. Eu estava frente a frente com um ídolo que marcou a minha infância de forma total. Um ídolo que jogou no time contrário ao meu de cuore. Que me fez chorar ao ouvir ao primeiro jogo que lembro ter ouvido, Santos x Palmeiras, em uma quarta-feira à noite no Pacaembu, março de 1958. O Palmeiras começou ganhando, Pelé empatou e Pepe virou, para o Palmeiras empatar logo depois. Antes de terminar o primeiro tempo o Santos já vencia de 5X2. Começa o segundo tempo e o Palmeiras parte para a cima, empata e vira, 6X5. Meu ouvido de 3 anos estava colado ao rádio e meus olhos se encheram de lágrimas quando o Pepe empatou aos 38 e fechou o placar aos 43, Santos 7X6 Palmeiras. Dizem que cinco pessoas morreram nesta noite, quatro ouvindo pelo rádio, uma assistindo no Pacaembu. Me lembro, acreditem, e chorei, muito.

Voltando para o coquetel, lembrei deste jogo olhando para Deus à minha frente. Conversamos, o fotógrafo chegou e tiramos a foto, ninguém havia ainda tentado fazer um click com o Rei até aquele momento e eu agradeço ainda não existir celular e selfies nesta noite. Evidente, depois deste boi, entrou a boiada, e o Rei, sempre com um sorriso no rosto, posou para fotos por muito tempo. Permaneci ali ao lado, com os canapés, taças de vinho, e vi a assistente do Rei alertá-lo pela primeira vez que estava na hora de partir para o outro compromisso. Quando isso aconteceu, um garçom, que servia de olho Nele, orando por uma brecha na fila, não se aguentou e pediu para tirar uma foto. Claro que o Edson disse sim e o garçom deixou a bandeja sobre a mesa, correu pela ponta direita e parou de frente para o gol. Nesta hora, todos os serviçais contratados para o evento, vendo que era final de jogo, correram para a grande área pedindo, implorando para ficar ao lado, atrás do Dico. Foi quando a assistente Dele voltou e disse para Ele e para todos ouvirem: “Não vai dar, Pelé, nós temos que sair agora”. Eu estava ao lado e assisti, com esses olhos que voltam a se encher de lágrimas, Sua Majestade se voltar para a assistente e responder: “Agora não, agora estou fazendo uma foto com os meus amigos”.

Ele já tinha feito o recorde mundial do Guinness com 1283 gols em 1363 jogos. Ele já tinha sido eleito o Atleta do Século deixando Jesse Owens em segundo e Eddy Merchx em terceiro lugar. Ganho 3 Copas do Mundo, 2 Mundiais Interclubes.

Já tinha dado autógrafo para o Presidente Richard Nixon, recebido, de toalha, no vestiário do Maracanã, o senador Robert Kennedy, recebido a taça de campeão da Rainha Elizabeth, revelado a Xuxa. Não precisava fazer graça, média, com os garçons, faxineiras, cozinheiros e demais convidados de um evento que acontecia no Bixiga. Nesta hora, minha idolatria por esse negro dourado, que me fez torcer para o Santos quando não jogava contra o Palmeiras, ir aos estádios vibrar com a manutenção do tabu contra o Corinthians ou na conquista do título paulista contra a Portuguesa, quando o Armando Marques errou na contagem dos pênaltis, foi aos píncaros da idolatria.

Aos que criticam esse Deus brasileiro fora do campo por atitudes que só a Ele dizem respeito, a frase da Copa: Vão se Qatar!

DIÁRIO DE BORDO QATAR 3

Termina a fase de Grupos da Copa do Qatar e alguns favoritos já foram catar coquinhos. O dromedário de listras andou desfilando pelos gramados em jogos como Arábia Saudita 2 x 1 Argentina, Japão 2 x 1 Alemanha, Marrocos 2 x 0 Bélgica, Tunísia 1 x 0 França, Portugal 1 x 2 Coréia, fazendo algumas lambanças nos classificados para as oitavas de final. A Bélgica ficou pelo caminho, assim como a Dinamarca, que não marcou contra a Austrália que seguiu em frente junto com o Marrocos que ficou, pasmem, em primeiro lugar com a Croácia em segundo.

O Brasil com o time reserva garantiu presença na próxima fase, apesar da indigestão com Camarões, e o Suárez sem morder ninguém nesta edição caiu fora.

Agora, nada mais surpreendente, zebrástico, do que o Grupo E. A Alemanha ficou de fora pela segunda vez consecutiva na fase de grupos, fato que jamais havia acontecido em todas as demais Copas pré-2018. Sem contar o drama, a emoção nas arquibancadas dos jogos que aconteciam de forma simultânea, quando em um dado momento do segundo tempo das partidas estavam se classificando Japão e Costa Rica, ficando de fora Alemanha e Espanha, que acabou se classificando em segundo lugar com os Samurais Azuis em primeiro. As trompeten germânicas devem estar soando regadas a muita cerveja pelos hornisten lá na Bavária.

Aliás alguém aí sabe a origem dessa expressão futebolística, cornetas, corneteiros?? É, tem tempo, do tempo que o Palmeiras ainda nem existia, era Palestra Itália, nos anos 1930. Os conselheiros esmeraldinos tinham um bar próximo ao estádio, onde eles se reuniam, rua Caraíbas esquina com a rua Turiaçu. O bar era vizinho a uma fábrica especializada na produção de canivetes, os “pica fumo” da época, e mais tarde, tesouras, a Corneta Ferramentas. Neste bar se reuniam os integrantes da Diretoria e Conselho do Palestra, e também o pessoal da oposição. Reuniões acaloradas, bem barulhentas, principalmente quando se encontravam no mesmo horário. Tanto que o pessoal do Conselho, quando os opositores entravam já alertavam os companheiros, “ihh, lá vem o pessoal da Corneta”!!! Daí para “corneteiros” foi um sopro para identificar os críticos torcedores alviverdes. Uma expressão que se espalhou para as outras torcidas.

Ahhh, sabe como surgiu o termo torcedores, torcida??? Antes dos corneteiros, na primeira década do século XX.

O Fluminense, clube carioca, fundado em 1902, era formado pela “nata” da sociedade do Rio de Janeiro, capital do país na época. As mulheres da alta sociedade marcavam presença nos jogos com seus lindos vestidos longos, sombrinhas, chapéus, luvas e lenços. Aflitas com o jogo, no calor do Rio, tiravam suas luvas, lenços e os torciam, apreensivas em meio aos chutes, disputas, gols. O jornalista e escritor maranhense, Coelho Neto, em uma de suas colunas na Gazeta da Tarde e no periódico A Cidade do Rio, registrou essas torções de luvas e lenços: “Enquanto eles jogam, elas torcem”, e assim nasceu a torcedora do Fluminense, que deu origem ao masculino e ao coletivo. Graças ao olhar observador e capacidade de escriba de Coelho Neto, um dos fundadores (cadeira 2) da Academia Brasileira de Letras.

Sem luvas ou lenços, os torcedores do Século XXI se agitam com as mãos querendo torcer o pescoço do técnico do seu time, do defensor ou do atacante que perde o gol. Até mesmo da estrela, como o Messi, que perdeu um pênalti no jogo decisivo para classificação contra a Polonia. Não fez falta, ao final, mas um hermano me confidenciou que deu vontade, na hora.

No fim, Marrocos e Japão em primeiro lugar dos seus grupos, Alemanha, Bélgica, Dinamarca, Uruguai de fora da Copa. Que Doha é essa???!!!