
Segundo o Google, o primeiro ser parecido com os que hoje lotam os estádios de futebol surgiu há 13 milhões de anos e parece que não era muito erectus, nem parecido. Dizem que houve um processo evolutivo de milhões de anos até que, provavelmente na África, os primeiros sapiens deram sinal de vida, algo em torno entre 400 mil e 100 mil anos atrás, não se sabe bem, tem que crave que foi há 200 mil anos.
Assim, começamos com os Hominídeos, o Homo habilis, Homo erectus, o Homo neandertal, até o Homo sapiens. Por milênios a religião era a fonte da história do surgimento do ser humano, ate que Darwin, em 1859, lançou seu livro “A origem das espécies”.
Pois então, passados 100 mil anos, talvez 400 mil, quem sabe 200 mil anos, e ainda se discute que cor de pele é mais nobre, ainda se vê uma galera em arquibancada de campo de futebol, descendentes dos primatas macacos, gritar macaco para um jogador que está no campo, jogando.
Aí se diz que futebol é apenas um jogo. Sim, de bola, de interesses, de egos. E quando um estádio, antes da bola começar a rolar, ataca, agride, ofende um ser humano apenas pela sua cor de pele, não é apenas futebol. É cultural, é comportamental, é um retrato deste ser humano que diz ter evoluído com o passar dos milhões de anos.
O que se assistiu ontem em um jogo pelo campeonato espanhol de futebol foi algo que vive latente há séculos no íntimo dessa experiência genética, química, e que flagrantemente não deu certo. Algo que já causou atrocidades, crueldades permanentes por séculos e séculos e que em pleno anos 2 mil pós messias é escamoteado e aflora de forma pontual. Algo que persiste mesmo todos sabendo que viramos pó, seja nobre ou plebeu. Mesmo sabendo que temos todos o mesmo número de ossos no corpo, ossos da mesma cor, sem distinção de gênero, credo ou origem social.
Quando um idiota pratica um crime de racismo se pode direcionar a punição a um elemento mal informado, mal concebido, mal criado. Quando um estádio, em coro, pratica um crime de racismo, se chega à conclusão que o erro está na concepção genética deste ser que não merece a dádiva de praticar o milagre da vida. Quando, no momento do crime, não se cumpre com a lei criada para punir atitude tão hedionda, se percebe que todos nós, brancos, pretos, amarelos, pardos, somos reféns de interesses e poderes que normatizam o nosso viver. Ontem, ao sermos testemunhas em tempo real de algo tão fora de propósito, em meio a esses tempos tão críticos em lideranças, oportunidades, sentimos cair nossas esperanças por dias melhores. Difícil sentir felicidade de forma solitária, difícil sentir-se bem quando deparamos que o nosso entorno não está plenamente bem, difícil desfrutar quando tantos são impedidos de desfrutar. O nosso sistema de autodefesa, sempre ativo, sempre alerta, nos poupa desse estágio de consciência no nosso dia-a-dia, porque do contrário, seria impossível viver de forma saudável. Mas basta um evento como este para que essa amarga realidade invada o nosso ser para nos mostrar que “humano” é apenas uma etiqueta na nossa pulseira de identidade.