O Comitê estava novamente reunido, como sempre, no maior sigilo, afinal, o governo via baixar sua popularidade e estava cada vez mais atento aos grupos de oposição que se reuniam sorrateiramente. Apesar da fachada democrática, a ideia era não tolerar manifestações contrárias aos que estavam no poder.
O prof. Think Mouse era o líder desse grupo de ratos que reunia espécimes de todos os tipos, camundongos, ratazanas, tuco-tucos, até hamsters. Um roedor respeitado pela comunidade, muito culto e atuante.
O tema do dia era sobre todos os escândalos de propinas, subornos, comissões ilícitas, corrupção generalizada que atingia os mais diversos escalões e que agora eclodia nos ministérios. O professor finalizava as atividades do dia, já era madrugada.
– A desculpa repetida nos últimos anos de que “não vi, não sei e portanto, não sou responsável” já não cola mais, e nós precisamos sair dessa apatia e confrontar, cobrar. Parar de apenas nos preocuparmos se está ou não atingindo a cada um de nós individualmente, e pensarmos como coletivo, como grupo, como sociedade!!!! Vamos às ruas, vamos mostrar o nosso descontentamento, a nossa indignação. Nós somos em maior número que eles, vamos mostrar a nossa força!!!
Os aplausos foram efusivos, até emocionados.
O professor desceu do palanque, a comunidade estava eufórica, ele se viu cercado pelos seus amigos roedores que queriam ter com ele pessoalmente.
– Professor, muito obrigado pelo seu empenho em nos abrir os olhos, só assim a gente se mobiliza e tira esses ratos do poder. Eles roem tudo o que vêem pela frente, tudo em benefício próprio, tiram dos mais carentes e ainda têm a coragem de dizer que agem defendendo os trabalhadores, essas pestes!!!
– Meu rapaz, a nossa história está repleta de ratos como esses, desde a proclamação da república, não é novidade. A diferença agora é que eles não se contentam em ficar apenas nos subterrâneos, nos esgotos, agora é explícito, e basta negar, dissimular, fazer que não sabe de nada, e tudo bem. Uma mentira é repetida com tal ênfase que cala a verdade, e isso não pode acontecer!! Quando nos calamos, nos igualamos, e viramos ratos iguais a eles, como quem espera a oportunidade de também se dar bem com alguma boquinha. Somos todos ratos!
O professor foi abrindo espaço em meio ao tumulto criado em sua volta.
O rapaz com quem ele havia conversado por último ficou tocado com a frase dita pelo professor ao final, visivelmente tocado.
Quando nos calamos, nos igualamos, e viramos ratos iguais a eles… O professor tem razão, a história está cheia de exemplos assim. Aquela ratazana que tentou impor a hegemonia da raça pura usou também de todas as estratégias e conseguiu, por um tempo, convencer grande parte da sociedade das suas ideias absurdas.
Quando nos calamos, nos igualamos, e viramos ratos iguais a eles. Somos todos ratos?